Cleide Freitas Alves Ferreira
(São Vicente/SP, 20 de fevereiro de 1922)
(São Paulo/SP, 17 de julho de 1995).
Ivani Ribeiro foi uma atriz e autora brasileira de novelas de rádio e TV. Na “Rádio Educadora”, passou a fazer apresentações onde trouxe ao público canções folclóricas e sambas, alcançando grande popularidade logo no rádio através dos programas criados, como “Teatrinho da Dona Chiquinha” e “As Mais Belas Cartas de Amor”, neste último, Ivani mostrou o lado de radioatriz e interpretou uma personagem feminina. Ivani protagonizou também o programa “Hora Infantil”, com músicas e poemas, que obteve grande sucesso e radiofonizou filmes e novelas famosas, onde também atuava como autora. Nesta mesma rádio, fez o programa “Infantil”, com músicas e poemas. Posteriormente, Ivani se transferiu para a “Rádio Difusora” onde atuou como cantora, interpretando canções folclóricas e sambas, sempre acompanhada por uma orquestra. Ivani integrou também o elenco da “PRG-2 - Rádio Tupi” de São Paulo. Ivani foi para o elenco da “Rádio Bandeirantes”, para a qual se transferiu junto com o marido, Dárcio Moreira Alves Ferreira, um locutor muito premiado e respeitado pela crítica especializada. Com Dárcio, Ivani teve dois filhos, Luís Carlos e Eduardo. Dárcio assumiu a direção da broadcasting da "PRH-9", pela qual lançou novos programas de alto dinamismo, como o programa de calouros “A Hora dos Neófitos”, voltado para o público jovem. Nesta rádio, além de atuar como atriz, Ivani adaptou peças para o teatro homônimo onde apresentou diversos programas, dentre os quais “Teatro Romântico” - baseado em poemas clássicos da literatura brasileira, “Os Grandes Amores da História” - dramatização da vida amorosa de personalidades históricas, “A Canção que Viveu” - dramatização de canções brasileiras e outros. Ivani Ribeiro também foi a primeira mulher brasileira a ter um programa de rádio exclusivamente seu, o “Teatro Ivani Ribeiro” onde ela escrevia e adaptava inúmeras peças levadas ao ar pela “Rádio Bandeirantes”. Na pioneira televisiva TV Tupi escreveu a série “Os Eternos Apaixonados”, o primeiro trabalho nesse meio. Depois, se transfere para a TV Record, onde escreveu sua primeira novela, “A Muralha”, adaptação do livro de mesmo título. Ivani escreve a novela “Desce o Pano” na mesma emissora. Ivani Ribeiro retornou para a TV Tupi emissora para onde escreveu uma nova versão de “A Muralha”. Nesta época a autora realizava alguns teleteatros para várias emissoras, mas a atenção principal eram as radionovelas, que ela escrevia para a “Rádio Bandeirantes”. No início da década de sessenta, Ivani foi contratada pela recém-inaugurada TV Excelsior, onde ela foi uma das redatoras do “Teatro Nove”. A primeira novela diária de Ivani foi “Corações em Conflito”, com direção de Dionísio de Azevedo que transpunha para o vídeo uma das histórias que o rádio havia consagrado e discutia os problemas que um viúvo, interpretado por Carlos Zara, tem ao realizar um segundo casamento. Aliás, esta foi a primeira novela diária nacional, já que as duas que a antecederam tiveram seus textos extraídos de originais argentinos. A partir da adaptação do texto argentino de “A Moça que Veio de Longe”, com Rosamaria Murtinho e Hélio Souto (então estreante na TV) nos papéis principais, o gênero se torna uma constante na grade de programação de todas as emissoras brasileiras. Ivani Ribeiro foi projetada nacionalmente na TV Excelsior onde liderou uma espécie de laboratório teledramatúrgico, intercalando romance com melodrama quando escreveu treze novelas consecutivas, todas com grande sucesso, com aproximadamente 1600 capítulos. Essas novelas foram “Onde Nasce a Ilusão” que abordou a temática circense e contou com produção milionária, “A Indomável” sua primeira incursão em um texto cômico, “Vidas Cruzadas”, um sucesso da época, a bem-sucedida “A Deusa Vencida”, “A Grande Viagem”, que era um suspense policial - temática esta retomada com “Anjo Marcado”, “Almas de Pedra” e “As Minas de Prata” - baseada no romance homônimo do escritor José de Alencar que serviria para uma segunda adaptação na novela “A Padroeira” de Walcyr Carrasco “Os Fantoches” (baseada no livro “O Caso dos Dez Negrinhos” de Agatha Christie), a novela de época “O Terceiro Pecado”, “A Muralha”, protagonizada por Mauro Mendonça, “Os Estranhos”, que contou com a participação de seres extraterrestres, “A Menina do Veleiro Azul”, que teve problemas na seleção de elenco devido à grave crise da emissora e “Dez Vidas” baseada no livro “Caminho da Liberdade” de Wanderley Torres, contando a vida de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes - inconfidente mineiro. Durante a sua carreira, Ivani Ribeiro usou pseudônimos como: Valéria Montenegro em “A Moça que Veio de Longe” e Arthur Amorim em “O Leopardo” exibida pela TV Record. Como Ivani era contratada da TV Tupi, usou esse recurso para poder escrever para a TV Record. O primeiro grande êxito de Ivani Ribeiro foi a novela de época “A Deusa Vencida”, ambientada no final do século dezenove. Entre outros méritos, a novela passou ser a primeira a ter uma trilha sonora própria e consagrou as atrizes Regina Duarte, trazida à TV pelo diretor Walter Avancini e Ruth de Souza, então iniciantes. Com a falência da TV Excelsior, Ivani se transferiu novamente para a TV Tupi, onde emplacou grandes sucessos como “Mulheres de Areia” (baseada em, “As Noivas Morrem no Ar”, uma antiga radionovela de sua autoria) - que consagrou a atriz Eva Wilma, “Os Inocentes” (inspirada na peça “A Visita da Velha Senhora” de Durrenmatt e na radionovela de sua autoria “A Mulher de Pedra”) protagonizadas por Cleyde Yáconis, contando também com a participação de Cláudio Corrêa e Castro. Ao longo da novela “Os Inocentes”, Ivani deixou o roteiro nas mãos do marido para trabalhar na novela “A Barba Azul” para a qual também se transferiram as atrizes Jussara Freire e Carminha Brandão. O tema central também rendeu outras novelas como “Cavalo de Aço” e “Fera Radica” - ambas de Walther Negrão, “Fera Ferida”, “Avenida Brasil” e a trama inicial de “Chocolate com Pimenta”. Ivani prosseguiu com a novela espírita “A Viagem”, (inspirada nos livros “E a Vida Continua...” e “Nosso Lar”, ambos ditados pelo espírito de André Luiz ao médium Chico Xavier) que contou com a colaboração do professor José Herculano Pires e foi a última novela da atriz Lúcia Lambertini. “O Profeta” protagonizada por Carlos Augusto Strazzer - que ganhou o “Troféu APCA” por essa interpretação - também abordou temas espíritas e místicos, assim como “Os Estranhos”, “O Terceiro Pecado”. Para escrever “O Profeta”, Ivani foi assessorada por um mentor espírita, um psiquiatra, um sacerdote católico e um orientador de candomblé, contando também com a participação especial da apresentadora Hebe Camargo, do médium Chico Xavier e do Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. “O Profeta” ganhou uma adaptação, protagonizada por Thiago Fragoso e Paola Oliveira, exibida pela TV Globo e escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid sob supervisão de texto de Walcyr Carrasco. Em “Aritana”, Ivani Ribeiro recebeu o auxílio do sertanista Orlando Villas Boas para abordar a cultura indígena, as diferenças entre os índios e a sociedade dita civilizada contou também com a colaboração do professor e então administrador do “Parque Xingu”, Olympio Serra. As gravações só foram possíveis graças ao apoio da “FUNAI” e foram feitas no “Posto Leonardo” em plena selva e nos estúdios da TV Tupi. “Aritana” a princípio foi mal vista por aqueles que se sentiam ameaçados com os direitos de reivindicação dos índios, (tema central). A intenção da autora foi defendida no especial “O Caso Aritana - Uma Novela à Parte” que contou com a participação do diretor artístico da emissora, Carlos Zara, os irmãos Vilas-Boas e grande parte do elenco. “As Bruxas”, novela que abordou assuntos polêmicos à época (a psicanálise de Sigmund Freud, separação de casais e adultério) temas vetados pela censura. Ivani Ribeiro frequentou sessões de terapia para que tivesse uma maior compreensão da popularização de análise grupal. “O Espantalho”, um de seus maiores sucessos, exibida pela TV Record abordou o tema da poluição nas praias. Com a falência da TV Tupi, Ivani se transferiu com praticamente todos os colegas autores e de elenco da antiga emissora, para a TV Bandeirantes, onde escreveu a novela de sucesso, “Cavalo Amarelo” protagonizada por Dercy Gonçalves ganhou uma continuação depois de seu término, intitulada “Dulcinéa Vai à Guerra” escrita por Sérgio Jockyman, que não obteve o mesmo êxito. Muito antes, Ivani já tinha escrito para TV Tupi as novelas “Alma Cigana”, “A Gata”, “Se o Mar Contasse” e “O Machão”, (estrondoso sucesso na época) e para a TV Excelsior as novelas “Ambição”, “A Outra Face de Anita”, “O Meu Pé de Laranja Lima”, “A Selvagem”, “Nossa Filha Gabriela” e “Camomila e Bem-Me-Quer”. Muitos remakes de antigas novelas Ivani foram levadas ao ar, “A Deusa Vencida” protagonizada por Elaine Cristina e “O Meu Pé de Laranja Lima” (baseada no romance homônimo de José Mauro de Vasconcelos) que ganharia uma terceira versão adaptada por Ana Maria Moretzsohn, além de uma adaptação para o cinema feita por Aurélio Teixeira. Ivani Ribeiro escreveu a novela “Os Adolescentes” auxiliada pelo psiquiatra Paulo Gaudêncio. Tencionando mostrar os conflitos dos jovens naquele momento, foi substituída por Jorge Andrade que terminou a obra amenizando os problemas dos jovens centrais e criando personagens novos, inexistentes nos capítulos criados por Ivani anteriormente. Quando Benedito Ruy Barbosa abandonou o roteiro de sua novela “Os Imigrantes” para retornar à TV Globo, a direção da TV Bandeirantes resolveu que Ivani deveria abandonar a escrita de “Os Adolescentes” e assumir “Os Imigrantes”. Apesar do profissionalismo de Ivani em aceitar esta incumbência, o fato acabou causando uma série de desencontros e o desgaste de sua relação com a emissora e acabou provocando sua saída em seguida. Ivani Ribeiro estreou na TV Globo, onde permaneceu até sua morte. A novela que marcou a sua estreia foi “Final Feliz”, dirigida por Paulo Ubiratan, Wolf Maia e Mário Márcio Bandarra. “Final Feliz” foi o último trabalho da atriz Elza Gomes. Stênio Garcia ganhou, nessa novela, os prêmios de “Destaque do Ano” e “Associação Brasileira de Críticos de Arte” - (ABCA), fazendo com que o ator fosse contratado pelo governo cearense para promover o turismo naquele estado. “Final Feliz” obteve audiência expressiva e foi a última novela inédita de sua autoria, pois todas as outras foram remakes ou baseados e adaptados de antigos sucessos seus. Ivani Ribeiro prosseguiu com “Amor Com Amor se Paga” (inspirada na peça “O Avarento”, de Molière e em "Camomila e Bem-Me-Quer"), com direção geral de Gonzaga Blota e direção de Atílio Riccó e Jayme Monjardim com Ary Fontoura no papel equivalente ao de Gianfrancesco Guarnieri na versão original, marcando a estreia da atriz Cláudia Ohana - papel que na versão original foi de Teresa Teller. Outro trabalho neste caminho foi “Hipertensão” (baseada em “Nossa Filha Gabriela”) com Maria Zilda no papel principal. “Hipertensão” marcou a estreia dos atores Antônio Calloni, Cláudia Abreu, Carla Marins e Eri Johnson. Em “O Sexo dos Anjos” (baseada em “O Terceiro Pecado” - a primeira incursão no sobrenatural) - Isabela Garcia, Felipe Camargo, Bia Seidl e Sílvia Buarque interpretaram os papéis principais. “O Sexo dos Anjos” não obteve êxito. “A Muralha” foi convertida em minissérie - adaptada por Maria Adelaide Amaral. Maria Adelaide escreveu também os remakes de “A Gata Comeu” cuja trama havia sido feita anteriormente com o nome de “A Barba Azul”, o remake de “Mulheres de Areia”, que juntou a espinha dorsal de “O Espantalho”, protagonizada por Guilherme Fontes e Glória Pires. A novela deveria substituir “Felicidade” de Manoel Carlos, mas como Glória Pires engravidou, sua estreia foi adiada em um ano. Em seu lugar entrou “Despedida de Solteiro” de Walther Negrão. A última novela escrita por Ivani Ribeiro antes de morrer foi o remake de “A Viagem”, inspirando-se na filosofia de Allan Kardec, com Christiane Torloni, Antônio Fagundes, Maurício Matar, Andréia Beltrão, Miguel Falabella e Guilherme Fontes nos papéis principais. A novela obteve tanto sucesso, que superou os índices de audiência da então novela das oito, “Pátria Minha” de Gilberto Braga. A regravação de "O Profeta" já havia sido cogitada anteriormente - mais precisamente para substituir “Chocolate Com Pimenta” de Walcyr Carrasco novela que havia sido inspirada em “Amor Com Amor se Paga” de Ivani Ribeiro), mas a emissora acabou optando pelo remake de “Cabocla” de Benedito Ruy Barbosa adaptado por suas filhas Edmara e Edilene. Ivani Ribeiro, ao partir deixou prontos dois trabalhos: a novela “Quem é Você?” (que aborda a vida da terceira idade e a farsa dos sexos) reunindo veteranos há tempos afastados da televisão como Castro Gonzaga, Norma Geraldy, Alberto Pérez, Ênio Santos e Vanda Lacerda, protagonizada por Cássia Kiss e Elizabeth Savalla (Ivani escreveu apenas o argumento que foi redigido pela sua colaboradora Solange Castro Neves, nos vinte e quatro primeiros capítulos e foi substituída por Lauro César Muniz) e a minissérie de doze capítulos “O Sarau” (baseada em obras do escritor Machado de Assis), projeto este que acabou por ser abortado. Além desta, Ivani Ribeiro também escreveu o argumento de “A Selvagem” (remake de “Alma Cigana”). A novela “O Machão” exibida pela TV Tupi foi adaptada de “A Indomável” da TV Excelsior e ganharia uma terceira adaptação exibida pela TV Globo, cujo título agora era “O Cravo e a Rosa” de Walcyr Carrasco, protagonizada por Adriana Esteves e Eduardo Moscovis (uma livre adaptação do clássico “A Megera Domada” de Shakespeare). Ivani Ribeiro escreveu também um roteiro para um filme com direção de Roberto Santos, “Pantomina”. Ivani Ribeiro morreu de insuficiência renal, provocada pela diabetes, exatamente vinte dias após o falecimento de seu marido o também escritor Dárcio Moreira Alves Ferreira.