Miriam Ângela Lavecchia
(São Paulo/SP, 28 de dezembro de 1946)
(São Paulo/SP, 02 de julho de 1994).
Miriam Batucada foi uma cantora, compositora e apresentadora de televisão brasileira. Miriam iniciou a carreira artística se apresentando em programas na TV Record, especialmente ao lado de Blota Jr. sua mulher Sônia Ribeiro, Hebe Camargo e Ronnie Von. Por causa de sua técnica de batucada com as mãos - aprendida na adolescência no bairro paulistano da Moóca. Miriam Batucada passou para a carreira de cantora lançando compactos de modestas vendagens e repercussão, sem nunca, entretanto, abandonar as participações em programas de televisão. Miriam Batucada é mais conhecida por sua participação no disco anárquico “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10” - um álbum conceitual ao estilo de “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”, dos “The Beatles” de “Freak Out!”, do “The Mothers of Invention” e de “Tropicalia ou Panis et Circencis” de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, “Os Mutantes” e Tom Zé - lançado pela gravadora “CBS”, juntamente com Edy Star, Sérgio Sampaio e Raul Seixas. A cantora desenvolveu uma carreira de pouco sucesso nos anos que se seguiram, sendo a menos bem-sucedida do grupo. Miriam lançou, ainda, mais dois álbuns de estúdio “Amanhã Ninguém Sabe” pela gravadora “GEL” e “Alma da Festa” de forma independente - sem obter grandes êxitos de público ou comercial. Miriam nasceu no dia 28 de dezembro, no bairro paulistano da Moóca, com o qual ficou identificada posteriormente em sua carreira artística, devido ao seu modo de falar característico dos descendentes de italiano da região. Entretanto, a menina foi registrada no primeiro dia do ano seguinte, para "ganhar um ano", conforme o costume da época, se tornando esta a data oficial em seus documentos. Miriam era neta de italianos, tanto por parte de mãe, quanto por parte de pai. Quando tinha dezessete anos, Miriam conheceu uma menina que tinha o apelido de "Chacareira", no salão de cabeleireiro da Dona Adelina, na Rua da Moóca. Essa amiga de infância que lhe ensinou a fazer percussão - isto é, a batucar - com as mãos. No início, Miriam fazia apenas um ritmo lento. Mas, após três meses de prática conseguiu atingir ritmos muito rápidos, podendo reproduzir o ritmo no compasso de qualquer samba. Futuramente, esta seria sua marca registrada na carreira artística. Ainda, antes de tentar a carreira artística, chegou a fazer curso de digitadora na “IBM” e a trabalhar na “Arno” tendo sido despedida por batucar com as mãos no teclado. Na vida privada era assumidamente homossexual, embora não deixasse isso claro em suas aparições públicas. Miriam Batucada iniciou a carreira com uma participação no programa do apresentador Blota Jr. na TV Record. Miriam Batucada se apresentou tocando diversos instrumentos, como piano, bateria, harmônica, violão e cuíca, além de mostrar a sua técnica de batucada com as mãos. Nas semanas que se seguiram, a jovem artista foi contratada pelo canal de televisão paulista, participando do programa da mulher de Blota Jr. Sônia Ribeiro, bem como passando a se apresentar regularmente nos programas de Hebe Camargo e Ronnie Von, nas tardes de sábado. Miriam chegou a se apresentar, inclusive, juntamente com “Os Mutantes”, que eram atração permanente do programa de Ronnie Von na época. Miriam ficou famosa por ser uma espécie de show-woman, pois fazia imitações, contava "causos" e piadas, cantava e tocava diversos instrumentos. Foi num destes programas que a apresentadora Cidinha Campos a chamou de "Mirian da Batucada", que passou a ser, sem apreposição, o nome artístico da cantora. Miriam Batucada gravou o seu compacto de estreia com as músicas "Batucando Nas Mãos" de Renato Teixeira e "Plác-Tic-Plác-Plác" de Waldemar Camargo e Walter Peteléco, produzido por Roberto Corte Real para a pequena gravadora pernambucana “Rozenblit”, pelo selo “Artistas Unidos”. O fonograma saiu também em uma compilação pela mesma gravadora, “Seleção de Sucessos”, lançada no mesmo ano. Miriam Batucada se mudou para o Rio de Janeiro para tentar seguir carreira como cantora, porque a cidade era o grande polo da indústria fonográfica nacional, sendo sede das maiores gravadoras do país. Ali, Miriam lança um compacto duplo pela gravadora “Odeon Records”, contendo "Linguajar do Morro", "Depois do Carnaval", "Puro Amor" e "Dois Meninos". Entretanto, a alta competitividade e a popularidade relativamente baixa de seu estilo de preferência, o samba, na época, levaram ao insucesso da empreitada. Miriam Batucada passa a viver, nesse período, de apresentações esporádicas - chegando a se apresentar nos Estados Unidos e em Portugal - e aparições em programas de televisão. Uma revista da época chegou a publicar que ela e Ronnie Von não tinham talento algum, sendo apenas invenções da Record. Apesar das dificuldades na capital fluminense, foi numa apresentação no Rio de Janeiro, na “Boate Drink” de Djalma Ferreira que Batucada causou boa impressão em um jovem artista baiano que havia chegado naquele ano ao Rio, Edy Star. Edy vivia de um contrato com a gravadora “CBS”, intermediado por seu amigo de longa data e produtor musical da Raul Seixas. Assim, quando Raul e seu amigo Sérgio Sampaio resolveram juntar pessoas para um projeto inovador no mercado fonográfico brasileiro, Edy foi o primeiro a ser chamado. Como eles queriam contar com uma voz feminina no grupo, pensaram em Diana então namorada de Odair José e Lilian, da dupla com Leno, amigo de Raul na época. Ambas foram descartadas pela linha romântica que seguiam. Outra que foi proposta era a cantora piauiense Lena Rios, em começo de carreira e que viria a defender uma canção composta por Raul no “Festival Internacional da Canção” . Após esta também ser recusada, Edy propôs que Raul entrasse em contato com Miriam. Suas respostas bem-humoradas às perguntas do trio garantiram ela no conjunto. Assim, Mirian participou do projeto de “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10”, o único álbum lançado pelos "quatro kavernistas". Batucada cantou duas faixas no disco coletivo, "Chorinho Inconsequente" de Edy Star e Sérgio Sampaio e "Soul Tabarôa" uma nova canção da dupla Antônio Carlos e Jocáfi que ela mesma conseguiu para lançamento no trabalho. O álbum chegou a receber duas boas matérias de críticos relacionados com a contracultura brasileira da época - o poeta piauiense Torquato Neto, em sua coluna no jornal “Última Hora”, do Rio de Janeiro e o filósofo Luís Carlos Maciel que escrevia para o semanário brasileiro “O Pasquim” - e a render algumas entrevistas com o quarteto e uma charge do cartunista Henfil antes de ter sua carreira interrompida pela decisão unilateral do presidente da gravadora, Evandro Ribeiro de retirá-lo das lojas, menos de dois meses após o seu lançamento. As vendagens do disco na época são difíceis de estimar devido a sua curta carreira, mas algumas de suas canções chegaram a tocar no rádio e fez algum barulho nos meios contraculturais cariocas. Apesar do episódio do disco dos kavernistas, Miriam continuaria contratada pela “CBS” e lançaria um compacto com produção de Raul Seixas, contendo as músicas "Diabo no Corpo" de Sérgio Sampaio e "Gente" de Aluízio Machado. Miriam Batucada muda para a gravadora “GEL”, lançando um compacto pelo selo fonográfico “Chantecler”, contendo "Decisão", composição própria e "Polichinelo", de Gadé e Almanir Grego. Devido a recepção satisfatória, Miriam Batucada lançou o disco “Amanhã Ninguém Sabe”, pela mesma gravadora e selo. O disco mescla releituras de canções de compositores clássicos do samba-canção como Wilson Batista, Geraldo Pereira, Alvaiade, Noel Rosa e Lupicínio Rodrigues - com canções de compositores de estilos mais contemporâneos - como o kavernista Sérgio Sampaio, Roberto e Erasmo Carlos e Chico Buarque, autor da canção-título. Miriam Batucada alcançou relativo sucesso radiofônico com "Teco-Teco", canção de Pereira da Costa e Milton Villela. O álbum também renderia um compacto simples com a música de trabalho "Você é Seu Melhor Amigo", outra composição própria, ladeada por "Você Vai Se Quiser" de Noel Rosa e um compacto duplo intitulado “Acertei no Milhar, com as canções "O Que Vier Eu Traço" de Alvaiade e Zé Maria, "Acertei no Milhar" de Wilson Batista e Geraldo Pereira, "Você Vai se Quiser" de Noel Rosa e "Meu Romance de J. Cascata. Miriam Batucada, participou do show produzido por Haroldo Costa, “Samba, Coisa e Tal”, ao lado de Grande Otelo, que se torna um sucesso de crítica e público, rendendo um bom retorno financeiro. Miriam Batucada participou de shows ao lado de Billy Blanco e Paulinho da Viola, além de lançar compactos esparsos pelas gravadoras “RGE”, “CBS” e “Musidisc”, ficando mais conhecida do grande público por participações no programa de Flávio Cavalcanti. A carreira entra em uma espécie de ostracismo discográfico, vivendo de apresentações esporádicas em pequenos bares da capital paulista. Miriam Batucada lança, de forma independente, seu último álbum de estúdio, “Alma da Festa”, pelo selo “RIC”. O disco contém gravações de sambas de compositores não muito conhecidos, sendo de especial menção uma parceria da cantora com Marcix, Roger Borin e Vivi Fagiolli em "Salve Rainha", canção em homenagem a Chico Mendes, assassinado alguns anos antes. Depois da morte, Miriam Batucada foi homenageada pela “Câmara Municipal de São Paulo” com a escolha de seu nome artístico para designar uma travessa no tradicional bairro da Moóca. Miriam Batucada passou a ser alvo de uma redescoberta, juntamente com os outros kavernistas, através da reedição em CD do disco original, recolocando-o em catálogo depois de quase trinta anos. Assim, Miriam Batucada passou a ser objeto de homenagens de outros artistas em shows e regravações e até de uma biografia pelo jornalista e historiador Ricardo Santhiago. Lançamentos fonográficos também se seguiram. Ricardo Santhiago encontrou diversas canções compostas pela artista e nunca registradas em disco em um baú apresentado pela irmã da cantora. Assim, Ricardo reuniu artistas convidados para o lançamento de um álbum com versões destas músicas com produção de Sérgio Arara e participação de Áurea Martins, Blubell, Ceumar, Cida Moreira, Edy Star, Fafy Siqueira, Juliana Amaral, Leila Maria, Márcia Castro, Marcos Sacramento, Maria Alcina, Silvia Machete, Vange Milliet, Vânia Bastos, Zé Luiz Mazziotti e Zeca Baleiro, além de gravação inédita da própria artista. Miriam Batucada morreu precocemente, vítima de um infarto fulminante no apartamento onde morava sozinha no bairro de Pinheiros. Como ficou mais de duas semanas sem entrar em contato com a família, sua irmã Mirna - que residia em Maringá - foi ao seu encontro e descobriu o corpo.