Elizabeth Santos Leal de Carvalho
(Rio de Janeiro/RJ, 05 de maio de 1946)
(Rio de Janeiro/RJ, 30 de abril de 2019).
Beth Carvalho foi uma cantora, compositora e instrumentista brasileira. Desde que começou a fazer sucesso, Beth se tornou uma das maiores intérpretes de samba, ajudando a revelar vários artistas. Beth era filha de João Francisco Leal de Carvalho, piauiense e Maria Nair Santos. Beth tinha uma única irmã, chamada Vânia Santos Leal de Carvalho. Beth decidiu seguir a carreira artística após ganhar um violão da mãe. Aos oito anos, ouvia emocionada as canções de Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida, grandes amigos de seu pai, que era advogado. Sua avó, Ressú, tocava bandolim e violão. Sua mãe tocava piano clássico. Sua irmã Vânia cantava e gravou discos de samba. Beth fez balé por toda infância e na adolescência estudou violão numa escola de música. Seguindo essa área, Beth se tornou professora de música e passou a dar aulas em escolas locais. Beth Carvalho morou em vários bairros do Rio e seu pai a levava com regularidade aos ensaios das escolas e rodas de samba, onde ela dançava em apresentações nas festas e reuniões musicais com seus amigos. Assim surgiu a cantora Beth Carvalho, influenciada por tudo isso e pela bossa nova, gênero musical que passou a gostar depois de ouvir João Gilberto passando a compor e a cantar. Seu pai foi cassado pelo golpe militar por sua ideologia de esquerda. Para superar as dificuldades que sua família enfrentou durante a ditadura, Beth voltou a dar aulas de violão, dessa vez para quarenta alunos. Graças à formação política recebida de seus pais, Beth foi uma artista engajada nos movimentos sociais, políticos e culturais brasileiros e de outros povos. Um exemplo foi a conquista, ao lado do cantor Lobão e de outros companheiros da classe artística, de um fato que até então era inédito no mundo: a numeração dos discos. Beth Carvalho se casou com o famoso jogador de futebol Édson Cegonha, revelado pelo “Bonsucesso” do Rio e que jogou também pelos clubes paulistanos “Corinthians”, “São Paulo” e “Palmeiras”. Juntos tiveram uma filha, a cantora Luana Carvalho. Poucos anos após o nascimento da filha, Beth se separou do marido. Beth morava no bairro de São Conrado, Rio de Janeiro. A carreira de Beth Carvalho teve origem na bossa nova. Beth Carvalho participou no movimento “Musicanossa”, criado pelos músicos Armando Schiavo e Hugo Bellard. Os espetáculos eram realizados no “Teatro Santa Rosa”, em Ipanema, onde teve a oportunidade de gravar uma das suas canções "O Som e o Tempo", no LP do “Musicanossa”. Nesta época ela gravou com o cantor Taiguara, pela gravadora “Emi-Odeon”. Beth Carvalho gravou o seu primeiro compacto simples com a música “Por Quem Morreu de Amor” de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Já envolvida com o samba, Beth participou do show “A Hora e a Vez do Samba”, ao lado de Nélson Sargento e Noca da Portela. Vieram os festivais e Beth participou de quase todos, “Festival Internacional da Canção - (FIC)”, “Festival Universitário”, “Brasil Canta no Rio”, entre outros. No “FIC”, Beth Carvalho conquistou o terceiro lugar com a música “Andança” de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi e ficou conhecida em todo o país. Além de seu primeiro grande sucesso, “Andança” é o título de seu primeiro LP. Beth Carvalho passou a lançar um disco por ano e se tornou sucesso de vendas, emplacando vários sucessos como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Olho Por Olho”, “Coisinha do Pai”, “Firme e Forte”, “Vou Festejar”, “Acreditar”, “Mas Quem Disse Que Eu te Esqueço”. Beth Carvalho é reconhecida por resgatar e revelar músicos e compositores do samba. Beth buscou Nélson Cavaquinho para a gravação de “Folhas Secas” e fez o mesmo com Cartola, ao lançar “As Rosas Não Falam”. Beth foi a supercantora da escola de samba “Unidos de São Carlos”, atual “GRES Estácio de Sá”, indo para a “Estação Primeira de Mangueira” e se dedicando totalmente a verde e rosa, que são as cores da escola. Beth Carvalho conheceu Jorge Aragão no bloco carnavalesco “Cacique de Ramos” onde cantava e desfilava animada, junto com o bloco. Jorge Aragão deu para ela a música "Vou Festejar", dele, Dida e Neoci. Pagodeira, Beth Carvalho conheceu a fertilidade dos compositores do povo e, mais do que isso, conheceu os lugares onde estavam, onde viviam, onde cantavam e tocavam. Frequentadora assídua dos pagodes, entre eles os do bloco carnavalesco “Cacique de Ramos”, Beth Carvalho revelou artistas como o grupo "Fundo de Quintal", Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Luis Carlos da Vila, Jorge Aragão, Bezerra da Silva e muitos outros. Por essa característica, Beth ganhou a alcunha de "Madrinha do Samba". Mais do que isso, a cantora trouxe um novo som ao samba, porque introduziu em seus shows e discos instrumentos como o banjo com afinação de cavaquinho, o tantã e o repique de mão, que até então eram utilizados exclusivamente nos pagodes do “Cacique”. A partir daí, esta sonoridade se proliferou por todo o país e Beth passou a ser chamada também de "Madrinha do Pagode". Sambista de maior prestígio e popularidade do Brasil é aclamada também como a "Diva dos Terreiros". Foram cinquenta e um anos de carreira, trinta e um discos, dois DVDs e apresentações em diversas cidades e países do mundo como Angola, Atenas (onde representou o Brasil no festival “Olimpíada Mundial da Canção” em um teatro de arena construído quatrocentos anos a.C. Beth tem um busto na Grécia), Berlim, Boston (na “Universidade de Harvard”), Buenos Aires (no “Luna Park”, projeto “Sin Fronteiras” da cantora argentina e sua particular amiga Mercedes Sosa), Espinho, Frankfurt, Munique, Johannesburgo, Lisboa (no show do jornal comunista “Avante”, para um público de trezentas mil pessoas), Lobito, Luanda, Madri, Miami, Montevidéu, Montreux (onde participou do famoso festival três vezes), Nice, New Jersey, Nova York (no “Carnegie Hall”), Newark, Paris, Punta del Este, São Francisco, Soweto, Varadero (Cuba), Zurique, Milão, Padova, Toulouse e Viena. No Japão, embora nunca tenha feito shows, vendeu milhares de cópias de CDs e teve sua carreira musical incluída no currículo escolar da “Faculdade de Música de Kyoto”. Beth Carvalho recebeu seis “Prêmios Sharp”, dezessete Discos de Ouro, nove discos de Platina, um DVD de platina, centenas de troféus e premiações diversas. Beth Carvalho foi enredo da “Escola de Samba Unidos do Cabuçu”, “Beth Carvalho, a Enamorada do Samba”, com o qual a escola foi campeã e subiu para o “Grupo Especial”. Como o “Sambódromo” foi inaugurado naquele mesmo ano, Beth e a “Cabuçu” foram as primeiras campeãs do “Sambódromo”. Dentre todas as homenagens já feitas à grande cantora, Beth considerava esta a maior de todas. E declarava: “Não existe no mundo, nada mais emocionante do que ser enredo de uma escola de samba. É a maior consagração que um artista pode ter”. Beth foi enredo também, anos depois, da escola de samba “Boêmios de Inhaúma”. Beth Carvalho viu a música “Coisinha do Pai”, grande sucesso de seu repertório, ser tocada no espaço sideral, quando a engenheira brasileira da “Nasa”, Jacqueline Lyra, a programou para ‘acordar’ o robô em Marte. Beth Carvalho gravou o vigésimo quinto disco, “Pagode de Mesa” ao vivo, em apresentação na gravadora “Universal Music”. Max Pierre, diretor artístico da “Universal”, traduziu o que ela costumava fazer sempre: cantar o samba de raiz em torno das mesas de quintais, terreiros e quadras, nos pagodes que reúnem os melhores partideiros, músicos e poetas do gênero. Embora mangueirense, Beth foi homenageada pela “Velha Guarda da Portela”, com uma placa alusiva ao fato de ser a cantora que mais gravou seus compositores. Beth Carvalho recebeu das mãos da sambista Dona Zica, viúva de Cartola, o “Troféu Eletrobrás de Música Popular Brasileira”. A entrega desse troféu, realizada no “Teatro Rival” do Rio de Janeiro, se tornou com Beth Carvalho, um recorde de bilheteria da casa. Carioca da gema e amiga de Cuba, Beth Carvalho foi solicitada pela presidência da “Câmara Municipal do Rio de Janeiro” para entregar a Fidel Castro, o título de “Cidadão Honorário” da cidade. Seu vigésimo sexto disco, “Pagode de Mesa 2”, concorreu ao “Grammy Latino” na categoria melhor disco de samba. O vigésimo sétimo disco foi o CD “Nome Sagrado - Beth Carvalho Canta Nelson Cavaquinho”, seu compositor preferido, com participação do afilhado Zeca Pagodinho, Wilson das Neves, Guilherme de Brito (parceiro mais constante de Nélson). Este projeto foi tirado de uma gravação caseira do arquivo de Beth e vendido em bancas de jornal. A cantora obteve grande repercussão pela ousadia da empreitada e concorreu ao “Prêmio TIM de Música Brasileira” como melhor disco de samba. Seu vigésimo oitavo CD, “Beth Carvalho Canta Cartola“, foi uma compilação idealizada pelo jornalista e grande fã de Beth, Rodrigo Faour. Beth foi a intérprete preferida de Cartola e responsável pela volta desse grande mestre à mídia. Beth Carvalho gravou seu primeiro DVD “Beth Carvalho - A Madrinha do Samba”, que lhe rendeu um disco de Platina. O CD que saiu junto foi disco de ouro e indicado ao “Grammy Latino” como melhor álbum de samba. Depois de lançar este trabalho com sucessos acumulados ao longo dos anos, Beth Carvalho seguiu em turnê internacional, fechada com chave de ouro no “Festival de Montreux”, exatamente dezoito anos após sua primeira apresentação na Suíça. A turnê mostrou sua força em números: mais de dez mil pessoas assistiram ao show em Toulouse, na França, platéia lotada no “Herbst Theatre”, em São Francisco e lotação esgotada em Los Angeles. Beth Carvalho abriu o “Theatro Municipal” do Rio de Janeiro para celebrar o “Dia Nacional do Samba” e seus quarenta anos de carreira. O show antológico, que reuniu grandes sambistas da atualidade, como Dona Ivone Lara, Monarco, Nélson Sargento, Zeca Pagodinho, "Quinteto em Branco e Preto", Dudu Nobre, entre outros, foi lançado em CD/DVD, inaugurando seu próprio selo “Andança”. Beth Carvalho lançou pelo selo “Andança”, o CD/DVD “Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia”, com um repertório de sambas de compositores baianos, de diferentes gerações. O DVD foi gravado pela “Conspiração Filmes”, no “Teatro Castro Alves”, em Salvador. Entre os convidados estavam Gilberto Gil, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Olodum, Riachão, Danilo Caymmi, entre outros. O DVD trazia ainda um histórico documentário sobre o samba de roda da Bahia. Beth Carvalho recebeu homenagem da escola de samba paulistana “Acadêmicos do Tatuapé” com o enredo "Beth Carvalho - A Madrinha do Samba". Beth gravou um DVD no “Parque Madureira” com antigos sucessos da época em que efervesceu o “Bloco Cacique de Ramos” e novos sucessos do CD "Nosso Samba Tá Na Rua", com participações especiais de Zeca Pagodinho e de sua sobrinha Lu Carvalho e ganhou uma exposição sobre sua vida e carreira no “Imperator - Centro Cultural João Nogueira”. Beth foi convidada pelo empresário José Maurício Machline, diretor do “Prêmio da Música Brasileira”, para ser curadora da vigésima quinta edição do prêmio, formando uma comissão de organização juntamente com Zélia Duncan e o pesquisador e historiador Sérgio Cabral, resultando numa belíssima premiação, com as músicas e artistas escolhidos por Beth e Sérgio Cabral e o texto de Zélia Duncan. Mesmo se locomovendo de cadeira de rodas e aos poucos voltando a andar, Beth participou também da turnê do prêmio, junto com Arlindo Cruz, Dudu Nobre, Altay Veloso, Zélia Duncan e Mariene de Castro. Beth Carvalho participou também da gravação do DVD da vigésima quinta edição do “Prêmio da Música Brasileira” junto com Dudu Nobre, Beatriz Rabello, Péricles, Xande de Pilares, Arlindo Cruz, Mariene de Castro, Zélia Duncan e a cantora beninense Angélique Kidjo, tendo a atriz Cris Vianna como mestre de cerimônia. Beth Carvalho era admiradora de Leonel Brizola, Fidel Castro e Hugo Chávez. Beth Carvalho era torcedora do “Botafogo” e filiada ao "PDT". Apoiou Luiz Inácio Lula da Silva em todas suas campanhas presidenciais. Beth Carvalho integrou o coro que entoou o jingle "Lula Lá", apoiou a candidatura de Dilma Rousseff à presidência e sua reeleição. Beth Carvalho apoiava o “MST” e o “Movimento Lula Livre”, que pedia a liberdade do ex-presidente Lula. No carnaval de 2007, Beth Carvalho foi injustiçada pela diretoria da “Mangueira”, sua escola de samba de coração. Com problemas na coluna, pediu um carro alegórico para desfilar e foi atendida. Entretanto, no dia do desfile foi impedida de subir no carro, por Raimundo de Castro, um membro baluarte da escola, que invocou o fato de ela não ser baluarte. Isso deixou Beth muito desapontada com os diretores da escola, pois no ano anterior, ela havia saído no mesmo carro, autorizada por Alvinho, presidente da escola na época. Desde o episódio, Beth se afastou dos eventos da escola. No carnaval seguinte, Beth participou da homenagem a Cartola, mas fora da “Mangueira”. A cantora saiu na “Viradouro”, que também homenageou o centenário do compositor fundador da escola verde e rosa. Beth afirmou, em nota publicada em seu site oficial que "jamais deixaria de ser mangueirense e que estará sempre com o seu coração na verde e rosa". Porém afirmou que "jamais voltaria a pisar na quadra da escola enquanto não recebesse um pedido formal de desculpas por parte do presidente" (Percival Pires, o Perci). Percival não era mais o presidente da escola, pois renunciou ao cargo após denúncias de envolvimento com o tráfico de drogas no morro da Mangueira. Entretanto a vice-presidente Chininha, que assumiu seu posto, pertencia ao mesmo grupo político que barrou Beth. A única chance de Beth voltar à escola seria a eleição de uma nova diretoria, ou então o tal pedido formal de desculpas ser feito, o que aconteceu. Ivo Meirelles, o novo presidente foi à casa de Beth Carvalho, com a imprensa, pedir desculpas e anunciar que ela iria homenagear Nélson Cavaquinho depois de uma auência de quatro anos. Beth voltou a prestigiar a escola do coração. Ela foi ao desfile de cadeira de rodas, devido a uma cirurgia recente. A cantora veio triunfante ao lado de Sérgio Cabral, em um carro alegórico que homenageava Cartola, Dona Zica, Nélson Cavaquinho e Guilherme de Britto. Beth saiu na comissão de frente da “Mangueira”, mostrando que a paz entre ela e a verde e rosa estava selada, junto com Bira Presidente e Ubirany (integrantes do grupo "Fundo de Quintal") e Jorge Aragão, representando os frutos da tamarineira do “Cacique de Ramos”. Beth Carvalho vinha enfrentando um drama pessoal: ela sofreu uma fissura no sacro, um osso localizado na base da coluna vertebral. Devido a esse problema, Beth passou a se apresentar deitada em uma cama, sem poder nem se sentar ou andar. O problema foi agravado por uma neuropatia, causada por ela ter ficado muito tempo na mesma posição durante a cirurgia na coluna. O problema na coluna foi provocado por uma artrose no fêmur que fazia com que a cantora andasse mancando, causando a fissura. No entanto, ela sempre se demonstrou otimista pela recuperação e feliz por receber o total apoio da família e dos amigos. Beth voltou aos palcos em um show no "Píer Mauá", no Rio de Janeiro. Após a recuperação, teve novas complicações na coluna, ficando durante um ano e um mês no hospital. Em uma das últimas semanas no hospital, Beth teve uma infecção pulmonar em decorrência de uma infecção num cateter e foi parar no CTI, mas teve alta e realizou um show de retorno no “Vivo Rio”. Nessa última fase de Beth no hospital, algumas rodas de samba fizeram um minuto de silêncio, pois foi noticiado por algumas fontes que Beth havia morrido. A morte de Beth repercutiu no meio cultural, artístico e político. A “Estação Primeira de Mangueira”, em suas redes sociais, lembrou Beth como "um dos mais importantes nomes do samba e voz que cantava com alma as cores de nosso pavilhão”. O “Cacique de Ramos”, lembrou da trajetória artística "firmando-se como madrinha de uma geração de sambistas, e também da nossa agremiação”. Maria Bethânia, Nélson Sargento, Leandro Vieira, Diogo Nogueira, Moacyr Luz, Zeca Pagodinho, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Elza Soares, Gal Costa, Péricles, Regina Casé, Daniela Mercury, Maria Rita, Luiz Antônio Simas, dentre outros, usaram as redes sociais para homenagear a cantora. No âmbito político, a trajetória e lutas de Beth foi lembrada pela ex-presidente Dilma Rousseff e pelo ex-presidente Lula. O “Governo do Estado” do Rio, lamentou a morte destacando-a como uma das melhores e mais importantes cantoras do país. Beth Carvalho estava internada há quase quatro meses e morreu de infecção generalizada. O velório aconteceu no “Salão Nobre” da sede do “Botafogo de Futebol e Regatas”.