Carolina Maria de Jesus
(Sacramento/MG, 14 de março de 1914)
(São Paulo/SP, 13 de fevereiro de 1977).
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora, poetisa, narradora, locutora, autora, dramaturga, cantora, compositora, declamadora e atriz brasileira com atuação em literatura, circo, música e TV. Carolina nasceu numa comunidade rural, de pais analfabetos. Carolina Maria de Jesus era filha ilegítima de um homem casado e foi maltratada durante toda sua infância. Aos sete anos, sua mãe a obrigou a frequentar a escola, depois que a esposa de um rico fazendeiro decidiu pagar seus estudos, mas ela interrompeu o curso no segundo ano, tendo já conseguido aprender a ler e a escrever e desenvolvido o gosto pela leitura. Carolina Maria de Jesus não negava sua religiosidade, referia-se a Deus em seu diário. Uma das primeiras escritoras negras do Brasil, Carolina Maria de Jesus é considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Sua obra e vida permanecem objetos de diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior. Carolina Maria de Jesus ficou famosa por seu primeiro livro “Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada”, publicado com auxílio do jornalista Audálio Dantas. O livro fez um sucesso estrondoso, tendo vendido DEZ mil exemplares em apenas uma semana e foi traduzido para TREZE idiomas, distribuído em mais de QUARENTA países. A publicação e a tiragem recorde, cerca de CEM mil em TRÊS edições sucessivas, revelam o interesse do público e da mídia da época pelo ineditismo da narrativa da favelada catadora de papéis e de outros lixos recicláveis. Quando a mãe morreu, Carolina se viu impelida a migrar para a metrópole de São Paulo. Carolina construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer material que pudesse encontrar. Carolina todas as noites para coletar papel com a finalidade de conseguir dinheiro para sustentar a família. Aos TRINTA E TRÊS, desempregada e grávida, Carolina se instalou na extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo (num momento em que surgiam na cidade as primeiras favelas) cujo contingente de moradores estava em torno de CINQUENTA mil. Ao chegar à cidade, Carolina conseguiu emprego na casa do notório cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, médico precursor da cirurgia de coração no Brasil, o que permitiu a Carolina ler os livros de sua biblioteca nos dias de folga. Quando deu à luz seu primeiro filho, Carolina perdeu seu emprego e voltou a ser catadora. Ao mesmo tempo em que trabalhava como catadora, Carolina registrava o cotidiano da comunidade onde morava nos cadernos que encontrava no material que recolhia, que somavam mais de vinte. Um destes cadernos, um diário que havia começado em 1955, deu origem a seu primeiro e mais famoso livro. Depois da publicação de “Quarto de Despejo”, Carolina se mudou para Santana, bairro de classe média, na zona norte de São Paulo. Carolina publicou, por conta própria, o romance “Pedaços de Fome” e o livro “Provérbios”. Carolina acumulou dinheiro suficiente para se mudar de Santana para Parelheiros, uma região árida da zona sul de São Paulo, no pé de uma colina, onde Carolina esperava encontrar solitude. Parelheiros se caracterizava por fortes contrastes entre ricos e pobres: grandes casarões ao lado de barracos, que, via de regra, surgiam em vales, onde o ar era poluído pelas indústrias da região do Grande ABC. Embora pobre, Parelheiros era o mais próximo que Carolina poderia chegar do interior de sua infância sem deixar São Paulo e suas escolas públicas, para as quais seus filhos iam de ônibus. A casa de Carolina fora construída num terreno modesto, perto de uma estrada de terra e recebia visitantes que andavam em tábuas de madeira sobre lama para chegar à casa cor de abóbora com janelas de caixilhos verdes. Agora passando boa parte de seu tempo sozinha, Carolina lia jornal e plantava milho e hortaliças, apesar de reclamar que seus esforços de jardinagem lhe rendessem tanto quanto lhe custassem. Logo depois de se mudar para Parelheiros, Carolina parou de receber pagamentos de direitos autorais. Tinha tão pouco dinheiro que, assim como fizera na favela do Canindé, ela e seus filhos passavam certos dias catando papéis e garrafas para vender. De tempos em tempos, entregava a uma vendedora local os abacates, bananas e mandiocas que produzia para serem vendidos num mercado local. Segundo reportagens da época, os pagamentos de direitos autorais recebidos por Carolina eram pequenos, mas constantes. Não eram, todavia, suficientes para que conseguisse viver melhor do que pouco acima da linha da pobreza. Com o sucesso da publicação do livro, Carolina Maria de Jesus gravou suas composições em disco lançado pela gravadora “RCA Victor”. O álbum foi intitulado “Quarto de Despejo: Carolina Maria de Jesus Cantando Suas Composições” contém DOZE músicas, todas escritas e cantadas por Carolina. Em 1971 a televisão alemã West Germans gravou o documentário Favela: A Vida na Pobreza”, realizado pela alemã Christa Gottmann, a partir do livro de Carolina, tendo a própria autora como protagonista. A produção só foi exibida no Brasil em 2014, depois que o “IMS” (que detém em seu acervo dois cadernos manuscritos da escritora) localizou o curta-metragem de DEZESSEIS minutos na Alemanha. Carolina Maria de Jesus recebeu e continua recebendo homenagens no Brasil e no Mundo pelo seu trabalho e sua história. Carolina Maria de Jesus nunca quis se casar para não ter que ser submissa aos homens. Manteve diversos relacionamentos afetivos ao longo da vida e todas as vezes que ficou grávida não foram planejadas. Seu primeiro filho, João José foi fruto de namoro com um marinheiro português. O segundo filho, José Carlos é fruto do relacionamento com um comerciante espanhol. A terceira filha, Vera Eunice fruto do namoro com um empresário brasileiro. Carolina Maria de Jesus morreu em seu quarto vítima de uma crise de insuficiência respiratória, devido ao agravemento da asma, doença que carregava desde seu nascimento.