Eduardo de Oliveira Coutinho
(São Paulo/SP, 11 de maio de 1933)
(Rio de Janeiro/RJ, 02 de fevereiro de 2014).
Eduardo Coutinho foi um cineasta, diretor, jornalista, narrador, documentarista, ator e produtor brasileiro com atuação em jornal, teatro, cinema e TV. Eduardo Coutinho é considerado por muitos como o maior documentarista da história do cinema do Brasil. Eduardo Coutinho estudou no “Colégio São Luís”. Aos dezenove anos ingressou na “Universidade de São Paulo” para cursar Direito, mas não concluiu a graduação. Coutinho teve seu primeiro contato com cinema em em seminário promovido pelo “MASP” e dirigido por Marcos Marguliès e começou a trabalhar como revisor e copidesque na revista “Visão”, função que exerceu por aproximadamente um ano. Eduardo Coutinho dirigiu a peça infantil “Pluft, o Fantasminha”, escrita por Maria Clara Machado. Após ter conquistado um prêmio em dinheiro ao vencer um concurso de televisão respondendo perguntas sobre Charles Chaplin, Eduardo Coutinho mudou-se para Paris a fim de estudar direção e montagem no “IDHEC”, onde realizou seus primeiros documentários. Eduardo Coutinho regressou ao Brasil e ingressou no “Centro Popular de Cultura” da “União Nacional dos Estudantes”. No núcleo dirigido por Chico de Assis e trabalhou na montagem da peça “Mutirão em Nosso Sol”, apresentada no “I Congresso dos Trabalhadores Agrícolas” que aconteceu em Belo Horizonte. Ao mesmo tempo, Eduardo Coutinho entrou em contato com nomes do “Cinema Novo”, como Leon Hirszman e Joaquim Pedro de Andrade e foi o gerente de produção do longa-metragem de episódios “Cinco Vezes Favela”, primeiro filme produzido pelo CPC e um marco do movimento. Apesar de não ter qualquer afinidade em administrar recursos financeiros, aceitou o convite que lhe proporcionou viajar com o “UNE Volante” para o Nordeste. Nessa viagem, Coutinho filmou o comício de Elizabeth Teixeira, viúva do líder das “Ligas Camponesas” João Pedro Teixeira, na cidade de Sapé, e esse material originou o argumento da primeira versão do filme “Cabra Marcado para Morrer”. O projeto até então seria o mais importante do jovem cineasta, que pretendia fazer o filme de ficção tendo como atores e atrizes os próprios camponeses do Engenho Galileia, no interior de Pernambuco, inclusive a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, que interpretaria a si própria. O filme chegou a ter duas semanas de filmagens, mas com o “Golpe Militar de 1964”, parte da equipe foi presa sob a alegação de comunismo e o restante se dispersou, interrompendo a realização do filme por quase duas décadas. Eduardo Coutinho constituiu, com Leon Hirszman e Marcos Faria, a produtora Saga Filmes. Eduardo Coutinho foi roteirista dos filmes “A Falecida” e “Garota de Ipanema”, ambos de Hirszman e dirigiu os filmes de ficção “O Pacto”, episódio do longa-metragem de “ABC do Amor” e “O Homem que Comprou o Mundo”, neste último tendo sido o diretor substituto. Coutinho retornou ao jornalismo como meio de ganhar a vida e atuou como revisor e crítico de cinema no “Jornal do Brasil”. Paralelamente, manteve-se no cinema, embora este não fosse seu principal meio de sobrevivência. Eduardo Coutinho dirigiu uma adaptação de Shakespeare para o cangaço brasileiro, em que o personagem (Falstaff) tornou-se (Faustão). Coutinho continuou assinando roteiros de produções nacionais, como “Os Condenados” de Zelito Viana, “Lição de Amor” de Eduardo Escorel e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” de Bruno Barreto. Eduardo Coutinho aceitou um convite para integrar a equipe do programa “Globo Repórter” da Rede Globo, atraído tanto pela estabilidade financeira que a televisão oferecia naquele tempo quanto pela oportunidade de trabalhar a linguagem documental com maior liberdade editorial, visto que o país vivia sob censura do governo militar. Com programas rodados em 16 mm, Eduardo Coutinho acabou desenvolvendo sua vocação de documentarista em filmes para TV, entre outros, como “O Pistoleiro da Serra Talhada”, “Seis Dias em Ouricuri” e “Theodorico, o Imperador do Sertão”, este último sobre o líder político potiguar Theodorico Bezerra. Eduardo Coutinho reencontrou os negativos de “Cabra Marcado Para Morrer”, que haviam sido escondidos da polícia por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto. Ele decidiu, então, mudar a concepção original de filme de ficção para um documentário sobre a interrupção de suas filmagens e sobre a vida real das pessoas que seriam os atores do longa. Graças à estabilidade financeira conseguida com o “Globo Repórter”, Coutinho pode financiar o filme com seus próprios recursos e, durante três anos aproveitou as viagens a trabalho pela Globo ao Nordeste para localizar os atores da versão e gravar entrevistas com os mesmos.”Cabra Marcado Para Morrer” foi finalizado, lançado e venceu de doze prêmios em festivais internacionais, entre os quais, prêmio da crítica internacional do “Festival de Berlim” e melhor filme no “Festival du Réel”. Após o sucesso de “Cabra Marcado Para Morrer”, Coutinho pediu demissão do “Globo Repórter” para se dedicar exclusivamente ao cinema. Ao longo dos quiinze anos seguintes, o cineasta teve muitas dificuldades para sobreviver apenas de cinema, tendo assim dirigido ou escrito roteiros de vídeos institucionais. Coutinho dirigiu para o “CECIP - Centro de Criação da Imagem Popular” (com temas ligados a cidadania e educação) e escreveu roteiros para séries documentais da Rede Manchete (como "90 Anos de Cinema Brasileiro" e "Caminhos da Sobrevivência", este último sobre a poluição em São Paulo). Com as dificuldades de financiamento impostas à produção cinematográfica ao longo daquele período, Eduardo Coutinho realizou documentários de curta ou média-metragem de pouca repercussão, entre os quais, “Santa Marta - Duas Semanas no Morro” , “Volta Redonda - Memorial da Greve”, “Boca de Lixo”) e “Mulheres no Front”. Seu único longa-metragem naquele período foi “O Fio da Memória” . Coutinho ainda realizou “Os Romeiros de Padre Cícero”, documentário financiado pela TV alemã ZDF Arte e cujo resultado foi considerado ruim pelo próprio Eduardo Coutinho e o fez acreditar que deveria desistir de fazer documentários autorais e viver apenas da produção de vídeos institucionais encomendados. Eduardo Coutinho foi contratado para fazer a pesquisa de "Identidades Brasileiras", uma série de programas da TVE que abordaria dez temas diferentes e envolveria pesquisa e gravações em diversas partes do país. Embora o projeto tenha acabado antes das gravações, o cineasta teve a ideia de fazer um filme sobre religião e pediu ajuda para José Carlos Avellar, então diretor-presidente da “RioFilme”, para financiar o documentário. Com custo de trezentos mil reais e quase dois anos de trabalho e a produção do “Centro de Criação da Imagem Popular”,Coutinho lançou “Santo Forte”. A partir dali, a carreira de Eduardo Coutinho renasceu mais uma vez e ele passou a trabalhar com colaboradores regularmente e conseguiu manter uma produção constante de filmes graças à parceria com a produtora “VideoFilmes”, do também documentarista João Moreira Salles, que desenvolveu fortes laços de amizade com o cineasta paulistano, ajudando-lhe a viabilizar e se envolvendo na elaboração dos seus sete documentários seguintes. Durante onze anos, Eduardo Coutinho foi premiado três vezes no “Festival de Gramado” pelos filmes “Santo Forte” e “Edifício Master”, além de um “Kikito de Cristal” pelo conjunto da obra, e duas vezes pelo “Festival de Brasília” pelos filmes “Santo Forte” e “Peões”, sem contar o reconhecimento da crítica especializada como o maior documentarista brasileiro em atividade. Ao completar oitenta anos, Eduardo Coutinho foi homenageado na “Festa Literária Internacional de Paraty” e na “Mostra Internacional de Cinema de São Paulo”. Eduardo Coutinho tinha como marca realizar filmes que privilegiavam as histórias de pessoas comuns. No teatro, Eduardo Coutinho dirigiu as peças “Passeios na Ilha Drummond”, “Zorro” e “Caminhos do Coração”. Eduardo Coutinho era casado com Maria das Dores com quem um filho, Daniel. Cronologicamente, sua última aparição em vídeo foi em “Sete Visitas”, de Douglas Duarte. Seu último trabalho, finalizado por João Moreira Salles, ganhou o nome de “Últimas Conversas” e foi lançado no festival “É Tudo Verdade”. Eduardo Coutinho finalizava esse documentário no qual entrevistou adolescentes da rede pública de ensino do Rio de Janeiro, quando foi morto a facadas em seu apartamento pelo próprio filho, que sofria de esquizofrenia. Sua mulher também foi ferida, mas sobreviveu. O assassinato de Eduardo Coutinho entrou na lista da revista “Veja” de crimes que chocaram o Brasil.