Aldir Blanc Mendes
(Rio de Janeiro/RJ, 02 de setembro de 1946)
(Rio de Janeiro/RJ, 04 de maio de 2020).
Aldir Blanc foi um letrista, cantor, compositor, dramaturgo, autor, escritor, e cronista brasileiro com atuação em música, rádio, teatro, cinema e TV. Blanc nasceu no bairro do Estácio, no décimo mês de gestação de sua mãe, Helena, cujo trauma deixou uma espécie de depressão pós-parto na mãe. Nunca mais engravidou e quase não saía de casa até sua morte aos oitenta anos. Seu pai, Alceu, era funcionário do antigo “Iapetec” e amava jogar sinuca e nos cavalinhos. Sujeito de poucas palavras se tornou o maior amigo de Aldir com o tempo. Filho único teve no avô materno, o português Antônio Aguiar, a presença mais afetuosa em sua infância, que praticamente criou o neto na casa de Vila Isabel, bairro onde estariam tipos e cenários fundamentais para os textos e as letras do futuro letrista e cronista. Aos onze anos, seus avós foram morar no Estácio. Com o passar dos anos, o contato com os malandros da área ficava cada vez pior, o que levou os avós a persuadi-lo a morar com um primo um pouco mais velho, na Tijuca, que o levou a conhecer bailes, noitadas boêmias, mulheres, futebol, a quadra da escola de samba “Acadêmicos do Salgueiro” (que se tornaria a escola do coração de Blanc), os blocos de carnaval. Aldir Blanc deu seus primeiros passos na música quando começou a compor aos dezesseis anos e aos dezessete aprendeu a tocar bateria, fundando o grupo “Rio Bossa Trio”, que com a entrada do músico Sílvio da Silva seria rebatizado para “GB-4”. Com o novo integrante, Blanc firmou sua primeira parceria musical. Aluno exemplar em biologia, conseguiu ingressar na “Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro”, de onde saiu com especialização em psiquiatria. Aldir Blanc fez residência dentro do “Centro Psiquiátrico Pedro II” e no “Hospital Gustavo Riedel”, em Engenho de Dentro, mas como se negava constantemente à rotina de eletrochoques em pacientes do manicômio, saiu de lá após um ano para abrir seu próprio consultório, no centro do Rio. Às vezes, Aldir chamava o paciente para conversar na rua ou num bar. Assim foi até quando já era parceiro de João Bosco e tinha sido gravado por Elis Regina e tinha vontade de se dedicar exclusivamente à carreira de letrista. Aldir concretizou a decisão logo após o trauma deixado pelas mortes de Maria e Alexandra, as filhas gêmeas prematuras de sete meses que seriam as primeiras de seu casamento com a professora Ana Lúcia. Dessa relação, eles teriam mais tarde as filhas Mariana e Isabel. Quando Blanc se casou com a professora Mary Sá Freire, ela já tinha duas filhas, Tatiana e Patrícia, que foram criadas como suas também. Aldir abandonou a profissão para se tornar compositor e um dos grandes letristas da história da música brasileira. Em cinquenta anos de atividade como letrista e compositor, foi autor de mais de seiscentas canções. Sua principal parceria se deu com João Bosco, em colaboração que se estendeu por mais de uma década e foi considerada como uma das duplas fundamentais da MPB. Blanc teve cerca de cinquenta parceiros em sua carreira, destacando-se, além de Bosco, Guinga, Moacyr Luz, Cristovão Bastos, Maurício Tapajós e Carlos Lyra. Entre seus trabalhos mais notáveis como letrista estão “Bala Com Bala”, “O Mestre-Sala dos Mares”, “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, “De Frente Pro Crime”, “Kid Cavaquinho”, “Incompatibilidade de Gênios”, “O Ronco da Cuíca”, “Transversal do Tempo”, “Corsário”, "O Bêbado e a Equilibrista", “Catavento e Girassol”, “Coração do Agreste” e “Resposta ao Tempo”. Além de letrista, Blanc foi também cronista, tendo escrito colunas em publicações como as revistas “O Pasquim” e “Bundas” e os jornais “O Globo”, “Jornal do Brasil” e “O Dia”. Muitas dessas crônicas foram lançadas mais tarde como livros, como são os casos de "Rua dos Artistas e Arredores", "Porta de Tinturaria" e "Vila Isabel, Inventário da Infância". Outra de suas grandes paixões, o futebol foi também inspiração para diversas canções, como é o caso de "Gol Anulado" (com João Bosco). Vascaíno fanático homenageou Roberto Dinamite em "Siri Recheado e o Cacete" (com João Bosco) e Romário "Yes, Zé-Manés" (com Guinga). Ainda compôs "Coração Verde e Amarelo" (com Tavito), tema da Rede Globo para a “Copa do Mundo FIFA de 1994”. Ainda em homenagem ao seu time de coração, Aldir Blanc escreveu, em parceria com José Reinaldo Marques, o livro "Vasco - A Cruz do Bacalhau". Ao longo de sua obra, são várias as referências - implícitas ou explícitas - ao “Vasco da Gama”. Neto de um imigrante português, Blanc passou a torcer pelo “Vasco” por influência de seu pai, vascaíno, que costumava levá-lo aos jogos da equipe quando era criança. Aldir Blanc nunca viajou para fora do Brasil. Salgueirense e boêmio por muitos anos. Com o tempo passou a beber com maior frequência, foi se afastando de alguns hábitos sociais e foi desenvolvendo a fobia social, chegando a ser diagnosticado com depressão. O quadro piorou e o levou a viver em reclusão quase permanente, agravada por um grave acidente de automóvel, que lhe dificultou para sempre o movimento da perna esquerda. Embora tenha sido letrista de centenas de músicas, Aldir Blanc gravou como cantor apenas dois álbuns de estúdio. O primeiro deles, "Aldir Blanc e Maurício Tapajós”. E o segundo, “Vida Noturna”. Além desses, Aldir Blanc participou do tributo em sua homenagem, “Aldir Blanc - 50 Anos” que contou com a participação de Betinho ao lado do “MPB-4” em "O Bêbado e a Equilibrista", e diversas participações especiais, como de Edu Lobo, Paulinho da Viola, Danilo Caymmi e Nana Caymmi. Um dos últimos trabalhos de Blanc foi compor, em parceria com Carlos Lyra, a trilha do musical "Era no Tempo do Rei", baseado no romance de Ruy Castro e com adaptação de Heloisa Seixas e Julia Romeu. Embora recluso, adorava falar pelo telefone com os amigos, onde comentava o noticiário e compartilhava informações sobre a família. Além do tempo dedicado ao convívio com a família e às conversas por telefone com os amigos, passava muito tempo em seu espaçoso escritório, lendo seus livros e ouvindo seus discos. Ateu, Blanc adorava ler obras sobre mitologia grega, “Segunda Guerra Mundial” e psicanálise, além de romances policiais. Era também grande apreciador de discos de jazz. O jornalista Luiz Fernando Vianna lançou uma biografia autorizada sobre Blanc. Ao descobrir sofrer de diabetes tipo dois e pressão alta, Aldir Blanc parou de fumar e consumir álcool. Dias após ser internado em estado grave com infecção urinária e pneumonia, Aldir Blanc morreu em decorrência da COVID-19. Aldir deixou esposa, quatro filhas, cinco netos e um bisneto.