Bertha Zemelmacher
(São Paulo/SP, 06 de agosto de 1934)
(São Paulo/SP, 26 de fevereiro de 2021).
Berta Zemel foi uma atriz, produtora, diretora e tradutora brasileira com atuação em teatro, cinema e TV. Berta Zemel é filha de imigrantes poloneses. Sua mãe, Rajzla Szulman nasceu em Varsóvia e seu pai é de uma cidadezinha limítrofe entre a Polônia e a Rússia chamada Myszyniec, que quando os russos invadiam se transformava em Myshinetz. O local mudava de nome a cada invasão da Rússia e da Polônia e assim o povoado sobrevivia. Os nomes deles Rajzla (a mãe) e Naftula (o pai) de origem hebraica e no Brasil passaram a ser chamados de Rosa e Natan. Seus pais se conheceram em São Paulo, num carnaval e se casaram alguns meses depois. Do casamento, nasceu Berta que teve uma infância pobre. Já adulta, Berta Zemel trabalhou em um escritório, fazendo contabilidade e datilografando correspondências até que optou pela carreira de atriz ao assistir, no “TBC”, a peça “O Mentiroso” de Carlo Goldoni, com Sérgio Cardoso. Esse mesmo ator lhe sugerir seu nome artístico quando ela saiu da “Escola de Arte Dramática” e foi trabalhar ao lado dele no “Teatro Bela Vista”. O ator perguntou se ela iria ficar com o nome Bertha Zemelmacher. Disse que era muito comprido e sem eufonia "e nos cartazes de publicidade fica maior que o meu", brincou. A atriz lhe perguntou o que deveria fazer. "Berta Zemel ou Zemél" (...). O Zemel foi o escolhido, Berta Zemel. Berta Zemel cursou, então, a “Escola de Artes Dramáticas” da “Universidade de São Paulo” (“EAD/USP”) e estreou profissionalmente com a peça “Hamlet, Princípe da Dinamarca” de Shakespeare, que marcou a inauguração do “Teatro Bela Vista”. Depois da morte do ator Sérgio Cardoso, o teatro passou a se chamar “Teatro Sérgio Cardoso”. Dentre seus trabalhos mais importantes no teatro estão, ”Yerma”, de Garcia Lorca, “Romanoff e Julieta” de Peter Ustinov, “A Menina Sem Nome” de Guilherme Figueiredo - sua única peça infantil - “Mãe Coragem” de Bertolt Brecht, “O Tempo e os Conways”, de J. B. Priestley e outras que lhe garantiram diversos prêmios como o “Prêmio Saci”, instituído pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e o “Prêmio Moliére”. Berta Zemel conheceu o ator Wolney de Assis no “Teatro Bela Vista”. O ator encenava “Romeu e Julieta” no Rio Grande do Sul quando foi convidado para integrar a “Companhia Nydia Lícia”. Segundo ela mesma, Berta se apaixonou a primeira vista, mas teve de lutar por quase dois anos pela atenção do ator, até conseguir e enfim começarem a namorar. Logo se casaram, e mantiveram juntos um curso de formação de atores no “Centro de Cultura de Israel”, em São Paulo durante vários anos. Wolney de Assis era engajado na “Aliança Libertadora Nacional - ALN” no período militar, Berta lutava na espera e na ajuda que pudesse fazer. Isso fez com Berta Zemel não visse motivo de levar ao palco a bondade e os relacionamentos humanos. Então ela se afastou do teatro para lecionar. O que animou a atriz a voltar a atuar foi o sucesso de Wolney no cinema. Anos depois aceitou um convite para atuar na televisão e aos poucos foi voltando ao cinema e ao teatro. Depois de quase vinte e cinco anos sem representar, Berta conhece o trabalho da médica Nise da Silveira e resolve montar uma peça sobre a vida da psiquiatra, “Anjo Duro”. A peça estreou em Curitiba, sob direção de Luis Valcazaras e lhe rendeu o prêmio “APCA” de melhor atriz e uma indicação ao “Prêmio Shell” também como melhor atriz. O pai de Berta gostava de contar histórias. "Quando faltava livros contava a sua própria vida, as vezes fantasiosa". Ao final de uma história contada ele dizia: "Quem tem fé e acredita em si mesmo será jovem a vida inteira!" Berta dizia que levou o maior susto quando nas cenas finais da novela “Água na Boca”, sua personagem (Maria Bellini) dizia a mesma frase que seu pai lhe dizia setenta anos antes. As histórias que o pai contava influenciaram, sobretudo o futuro da atriz no teatro. Quando construi (Vitória Bonneli), da novela de mesmo nome, se inspirou na mãe e outras mulheres lutadoras do bairro onde morava. Berta e a mãe iam a uma pensão perto de casa almoçar, o filho do dono da pensão era Durval de Souza, que foi ator, comediante, locutor, dublador e pioneiro na apresentação de programas infantis na televisão brasileira. Nos almoços na pensão, mãe e filha encontravam Durval. Um dia a mãe de Berta apresentou a filha a Durval que à época já trabalhava na TV. Perto da pensão havia o “Teatro Brasileiro de Comédia – TBC”. Na parte de cima do “TBC” ficava a “Escola de Arte Dramática”, onde Durval de Souza também era aluno. Berta nem sabia que existia um teatro perto da casa dela. Num almoço anterior Dona Rosa já havia falado com Durval: "Minha filha quer muito trabalhar". Trabalho ele não arrumou, pois não fazia rádio e na TV nada para uma menina da idade de Berta. Mas falou em outro almoço de mãe e filha sobre a “Escola de Arte Dramática”. Deu-lhe dois ingressos e disse "se você gostar eu te ensino a fazer o teste da Escola (EAD)". O “TBC” foi criado por Franco Zampari e a “EAD” era dirigida por Alfredo Mesquita (membro da família que dirigia o jornal “O Estado de São Paulo” . Famosos atores faziam o TBC, Bibi Ferreira, Tônia Carreiro, Sérgio Cardoso, Cleyde Yáconis, Paulo Autran, Cacilda Becker. Havia também o trabalho dos diretores estrangeiros, Ziembinski, Ruggero Jacobbi, Adolfo Celi, Luciano Salce. Berta assistiu com a mãe ao espetáculo com os ingressos que Durval de Souza havia dado a elas e ficou maravilhada com a encenação. Era aquilo que ela queria fazer e até então não sabia. Porém era tímida e tinha a voz quase que escondida. Fora a resistência da família. Berta covenceu a mãe que teatro era o que queria fazer. Certo dia as duas pediram ajuda a Durval de Souza. Então, todos os dias durante alguns meses, ele ia na casa de Berta lhe dar aulas. Depois de muitos exercícios, nos ensaios sua voz começou a aparecer. Depois Berta fez os testes que consistiam em português e interpretação, com duas leituras e enfim entrou na “EAD”, classificada em segundo lugar. Na TV, Berta Zemel participou de várias peças do “Grande Teatro Tupi” dirigida, entre outros, por Sérgio Britto. “O Morro dos Ventos Uivantes” novela baseada no livro de Emily Brontë, marcou sua primeira aparição em televisão. Com Fernanda Montenegro, Berta Zemel fez para a TV, “À Margem da Vida” de Tennessee Williams. Berta Zemel fez o papel de uma tia meio louca do personagem de Vicente Celestino em “O Ébrio” na TV Paulista, a atual TV Globo São Paulo. Foi uma brevíssima aparição representando a personagem (Adélia). Na TV Bandeirantes fez (Madalena), na novela “Renúncia”. A novela também foi escrita e dirigida por Geraldo Vietri, adaptada do romance do espírito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Essa novela ficou no ar por apenas doze dias e retirada da grade de programação da emissora sem maiores explicações. A essa altura a Tupi já havia se transformado em TVS (depois SBT). “Jogo do Amor”, novela escrita por Aziz Bajur foi transmitida pelo SBT e Berta Zemel interpretou (Viviane). Depois dessa novela, Berta se dedicou mais ao teatro, a sua grande paixão. Além disso, ela morava em São Paulo e normalmente as gravações eram no Rio de Janeiro. Berta Zemel fez uma participação especial na terceira temporada de “Malhação”, como a professora (Penny). De volta à TV Bandeirantes, Berta Zemel foi a personagem (Maria Bellini) em “Água na Boca”, novela de Marcos Lazzarini que contou a história do amor entre dois jovens de famílias rivais, os (Bellini) e os (Cassoulet). Berta Zemel protagonizou a novela “Vitória Bonelli” escrita por Geraldo Vietri A novela fez estrondoso sucesso chegando a alterar o horário de missas e de sessões de cinema. É considerado seu melhor trabalho para a TV. O “Núcleo de Teledramaturgia” do SBT cogitou produzir um remake de “Vitória Bonelli”. À época, Nilton Travesso havia chegado ao SBT para remontar o núcleo de dramaturgia e os remakes eram a aposta inicial. Vietri morreu, o que prejudicou um provável remake de “Vitória Bonelli” no SBT. Outro papel que Berta relembrava com carinho é o da professora (Berenice), da novelade “Os Apóstolos de Judas”, da TV Tupi. Berta Zemel fez a (Raquel) de “Gaivotas”, trama em que o protagonista reúne os amigos do colégio trinta anos depois de um trágico acontecimento na formatura deles. A estreia no cinema foi em “O Quarto” filme escrito e dirigido por Rubem Biáfora. No longa, Berta interpreta (Júlia). Berta Zemel teve muita dificuldade de passar do teatro para o cinema. Havia uma frase que era difícil para ela: "Quanto menos você fizer é melhor. O menos é mais". Berta Zemel aparece no filme apenas uma vez. "Foi um dos bons filmes daquela época”. No filme “Que Estranha Forma de Amar” baseado no romance “Iaiá Garcia”, de Machado de Assis, volta a trabalhar com Geraldo Vietri, diretor das novelas “Vitória Bonelli” e “Renúncia”. Em “Desmundo”, dirigido por Alain Fresnot, Berta Zemel deu vida à dona (Branca) e acabou conquistando o “Troféu Candango” de melhor atriz coadjuvante na 35ª edição do “Festival de Brasília”. Em “O Casamento de Romeu e Julieta” de Bruno Barreto, Berta Zemel interpretou a (Nenzica). Em “A Casa de Alice”, fez Dona (Jacira), a mãe da protagonista (Alice). Além do “Candango” por “Desmundo”, Berta Zemel ganhou inúmeros prêmios ao longo da carreira. "Ganhei todos" "Tenho uma meia dúzia de Sacis, vários Governador do Estado e mais alguns, entre os quais o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e o Padre Ventura, no Rio", contabilizava. Não há informações sobre as causas que levaram à morte a atriz Berta Zemel.