Amélia Brandão Nery
(Joboatão/PE, 25 de maio de 1897)
(Goiania/GO, 18 de outubro de 1983).
Amélia Brandão conhecida também por Tia Amélia foi uma pianista, atriz, locutora, musicista, cantora, compositora, radialista, apresentadora e compositora brasileira com atuação em rádio, teatro e TV. Embora tenha iniciado a carreira como pianista erudita, Amélia Brandão passou a se dedicar, sobretudo, à música brasileira, particularmente ao choro, sendo muito comparada à sua predecessora Chiquinha Gonzaga. Em crônica denominada "A Bênção, Ti'Amélia", Vinicius de Moraes afirmou que “Tia Amélia é uma ressurreição de Chiquinha Gonzaga com bossas novas”. Amélia nasceu numa família de músicos. O pai era violonista, clarinetista e regente da banda da cidade, enquanto a mãe tocava piano. Aos quatro anos, Amélia já tocava de ouvido o piano, aos seis iniciou as aulas de música e com doze anos compôs a valsa “Gratidão”. Seu desejo era ser artista, mas o pai e, posteriormente, o marido, tentaram impedir que seguisse essa carreira. Mesmo assim, Amélia fazia pesquisas sobre o folclore brasileiro, que serviram de tema para suas composições. Amélia se casou aos dezessete anos, com um rico fazendeiro, chamado Sr. Nery, escolhido por seu pai. Deixou, assim, o engenho Jardim, em Moreno e foi morar em Jaboatão, na fazenda do sogro, que faleceu dois anos após o matrimônio do filho. Depois de pouco tempo, o engenho atolado em dívidas teve que ser vendido, bem como a fazenda. Após a perda total dos bens, o marido de Amélia não resistiu e morreu vitimado por um colapso, deixando-a viúva aos vinte e cinco anos, com quatro filhos, Silene Brandão Nery, Clóvis e mais dois para criar. Desesperada e sem recursos para sustentá-los, Amélia passou por muitas privações, tendo chegado ao ponto de vender o próprio piano para alimentar a família. Uma vez, ao se apresentar em um recital de caridade, deixou entusiasmado, com sua interpretação, o governador de Pernambuco, que lhe concedeu apoio para empreender uma turnê de seis anos, durante a qual pôde se realizar como pianista internacional. Amélia viajou ao Rio de Janeiro para esclarecer uma questão de direitos autorais, a respeito da gravação de uma composição sua sem autorização na “Odeon”. Na então capital nacional, Amélia foi contratada para se apresentar em um concerto no antigo “Teatro Lírico” obtendo grande êxito. Amélia trabalhou em diversas emissoras de rádio, e chegou a tocar piano com Ernesto Nazareth. Na “Odeon”, além de ter ganhado seus direitos autorais, recebeu convite para gravação de um disco. A convite do “Itamaraty”, Amélia fez uma digressão se apresentando pelas Américas com sua filha, a cantora Silene de Andrade. Em Washington, Estados Unidos, Amélia chegou a jantar com o presidente Franklin Delano Roosevelt e esteve em contato com celebridades como Greta Garbo e Shirley Temple. Amélia Brandão representava o Brasil como artista, a pedido do presidente Getúlio Vargas. Amélia foi contratada por uma emissora de rádio da cidade de Schenectady, tendo trabalhado cinco meses sob o patrocínio da empresa “General Electric”. Posteriormente, Amélia trabalhou também em New York e New Orleans. De volta ao Recife, após o sucesso no exterior, Amélia foi contratada como pianista pela “Rádio Clube de Pernambuco” e pelo “Jornal do Comércio”. A repercussão de suas apresentações a levou a tocar nas rádios “Mayrink Veiga”, “Sociedade” e “Clube do Brasil”. Amélia trabalhou na “Rádio Nacional”, no “Clube da Chave” e em outros clubes cariocas. Em São Paulo, atuou durante três meses nas TV Record, TV Tupi (onde fez um retrospecto da época áurea do choro brasileiro) e TV Paulista. Amélia já ganhara o suficiente para ter uma vida abastada. Após o casamento de sua filha, se apresentou apenas uma vez no “Teatro Municipal de São Paulo”, decidida a encerrar sua carreira e não mais tocar em público. Amélia foi morar em Marília, interior do Estado de São Paulo e, depois, em Goiânia. Amélia passava os dias escrevendo músicas e tocando piano, mesmo sem ouvintes. Entretanto, incentivada por Carmélia Alves e Ary Barroso, Amélia regressou ao meio artístico. Na época, já conhecida como Tia Amélia, apelido que lhe deu o cantor e compositor Roberto Carlos (que a homenageou com a canção "Minha Tia"), apresentou o programa “Velhas Estampas”, na TV Rio, onde tocava choros e contava histórias de sua juventude. Amélia fez sua última gravação aos oitenta e três anos, pelo selo “Marcus Pereira Discos”, para o LP "A Benção, Tia Amélia", em que interpretava doze composições inéditas. Amélia Brandão morreu de causas naturais devido a senilidade.