Wilson Simonal de Castro
(Rio de Janeiro/RJ, 23 de fevereiro de 1938)
(São Paulo/SP, 25 de junho de 2000).
Wilson Simonal foi um cantor e compositor brasileiro de muito sucesso, chegando a comandar um programa na TV Tupi, “Spotlight” e dois programas na TV Record, “Show em Si... Monal” e “Vamos S'imbora” e a assinar o que foi considerado na época o maior contrato de publicidade de um artista brasileiro, com a empresa anglo-holandesa “Shell”. Filho de Maria Silva de Castro, uma cozinheira e empregada doméstica mineira e do também mineiro Lúcio Pereira de Castro, radiotécnico que havia se mudado com sua mulher para o Rio de Janeiro, Simonal recebeu esse nome em homenagem ao médico que realizou o parto. Mas, por obra de seu pai, o que deveria ter sido Roberto Simonard de Castro acabou se tornando Wilson Simonal de Castro. Simonal estudou em colégio católico chegando inclusive a ter aulas de canto orfeônico ao participar do coral se mudando depois para um colégio público. Na praça Antero de Quental, onde jovens se reuniam para passar os fins de semana, Simonal chegou a causar algum rebuliço cantando sucessos da época em inglês. Ali conheceu Edson Bastos, filho da pianista Alda Pinto Bastos, que lhe ensinou a tocar violão e piano e com quem pretendia formar um conjunto musical. Mas os planos de formar um grupo musical foram interrompidos quando Simonal foi chamado para servir no “8º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado - (8º GACOSM)” e neste quartel, que era famoso pelo seu time de futebol e pela sua banda, Simonal aprendeu a comandar plateias, já que era chefe da torcida do time do quartel, além de ter participado de vários bailes como cantor. Simonal deu baixa do exército como sargento e se juntando ao irmão Zé Roberto e aos amigos Marcos Moran, Edson Bastos e Zé Ary, adotaram o nome de “Dry Boys”. O conjunto durou até quando se apresentaram no programa “Clube do Rock” de Carlos Imperial, na TV Tupi. Depois da apresentação tentaram um contrato com uma gravadora, por intermédio de Imperial, mas foram recusados. Isto levou o grupo ao fim, com Simonal seguindo carreira solo sob a proteção de Imperial, se tornando também crooner do “Conjunto Guarani”, se apresentando como o Harry Belafonte brasileiro, uma alusão ao rei do calipso americano. Com o fim dos “Dry Boys”, Simonal ficou sem ter onde morar, já que morar na casa da sua mãe em Areia Branca e trabalhar na Zona Sul não era possível. Carlos Imperial o contratou como seu secretário, ao lado de Erasmo Carlos e arranjou um modo de Simonal morar na casa de Eduardo Araújo que, ainda adolescente, morava em uma quitinete alugada pelo seu pai, no Catete. Nesta época, Simonal chegou a substituir Cauby Peixoto em uma apresentação na antiga “Rádio Nacional” carioca, conseguindo um contrato. Entretanto, a estada na casa de Eduardo Araújo não é longa e Simonal logo se muda para um apartamento de Imperial. Numa das apresentações do “Clube do Rock” conhece Tereza Pugliesi, que viria a ser sua esposa, e começa a namorá-la. Wilson Simonal se torna crooner da boate “Drink”, pela qual chega, inclusive, a gravar duas faixas para um LP. A sua exposição na boate lhe rende um contrato com a gravadora “Odeon” pela qual lançaria seu primeiro compacto com "Terezinha", um chá-chá-chá de Imperial em homenagem a namorada de Simonal e "Biquínis e Borboletas". Wilson Simonal troca a “Drink” pela boate “Top Club”. Wilson Simonal lançaria mais três compactos para a gravadora testar sua receptividade em diferentes estilos musicais. O LP de estreia, “Tem Algo Mais” contém "Balanço Zona Sul", seu primeiro sucesso nas rádios. Pouco antes do lançamento do álbum, Simonal se casa com Tereza Pugliesi já grávida do primeiro filho do casal. O álbum e a música lhe dão maior exposição, provocando um convite da dupla Miele e Bôscoli para que ele deixasse o “Top Club” e passasse a se apresentar nos shows que eles organizavam, conhecidos como "pocket shows", no "Beco das Garrafas". Simonal aceita e participa de várias apresentações. Nasce seu primogênito, Wilson Simonal Pugliesi de Castro e Simonal lança mais um compacto com "Nanã" e "Lobo Bobo", recebendo boa acolhida nas rádios e abrindo espaço para a gravação do seu segundo álbum, “A Nova Dimensão do Samba”, ainda considerado por muitos como o melhor disco da carreira de Simonal. Wilson Simonal chega a excursionar quarenta dias com a dançarina Marly Tavares e o conjunto “Bossa Três”, do pianista Luís Carlos Vinhas, pela Colômbia com o show "Quem Tem Bossa Vai à Rosa", o primeiro de Miele e Bôscoli que havia sido pensado para um teatro de verdade, isto é, fora do circuito do “Beco das Garrafas”. O sucesso no “Beco” e as músicas gravadas trazem o interesse da TV Tupi em produzir um programa apresentado por Simonal. Assim, Wilson Simonal assina contrato para apresentar o programa “Spotlight” e se muda para São Paulo. Foi nessa época que defendeu "Rio do Meu Amor” e "Cada Vez Mais Rio" no “I Festival da Música Popular Brasileira” da TV Excelsior. Simonal se mostrava antenado com a música que estava sendo feita no país. Além de ter sido o segundo a gravar Caetano Veloso - sua irmã, Maria Bethânia, já o havia gravado, mas Simonal era mais conhecido - foi o segundo a gravar Chico Buarque, apenas depois de Geraldo Vandré (que havia defendido "Sonho de Um Carnaval"), mas antes de Nara Leão, frequentemente lembrada por ter sido quem lançou o compositor carioca. Também foi o primeiro a gravar Toquinho, defendendo a canção "Belinha", no “III Festival da Música Popular Brasileira”. Quando seu contrato com a TV Tupi acabou, Simonal não quis renová-lo. Em vez disso, assinou com a TV Record que era o maior canal de TV brasileiro graças aos seus programas musicais, em especial “O Fino da Bossa”, comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues e que era o reduto da bossa nova e da canção de protesto e ao programa “Jovem Guarda” comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa um propagador do iê-iê-iê. Logo no início, Simonal já passou a ser uma atração fixa no programa de Elis e Jair Rodrigues, mas participava também do programa dos jovem guardistas, algo que só ele e Jorge Ben Jor faziam. Wilson Simonal foi eleito o quarto melhor cantor brasileiro de todos os tempos pela revista “Rolling Stone Brasil”. Simonal lançou mais dois compactos, sendo que o segundo, "Mamãe Passou Açúcar em Mim", gravado para a trilha sonora do primeiro filme de “Os Trapalhões”, “Na Onda do Iê-Iê-Iê” e com a banda “The Fevers” acompanhando o cantor, estourou nas rádios e foi o maior sucesso de Simonal até então. Na onda desse novo sucesso, Simonal firma uma parceria com o “Som Três”, formado por Toninho na bateria, Sabá no baixo e César Camargo Mariano no piano, para que o grupo o acompanhasse na carreira solo e no seu futuro. A ideia de Simonal e César Camargo Mariano era misturar bossa nova, samba, a nascente música soul americana, o jazz, a música de protesto e o rock que se fazia por aqui na época sem perder a qualidade, mas fazendo um som que eles definiam como "mais comunicativo", isto é, que se comunicasse melhor com as massas do que a bossa nova. Este novo som seria chamado futuramente de pilantragem, uma mistura de samba, iê-iê-iê e soul, se constituindo em verdadeiro movimento, capitaneado por Wilson Simonal, Carlos Imperial e Nonato Buzar Wilson Simonal estreou o seu programa "Show em Si... Monal", tendo entre os seus roteiristas Miele, Bôscoli, Carlos Imperial e Jô Soares. Nos intervalos do programa que era gravado, precisava de quando em quando, parar para as trocas das fitas de rolo, Simonal entretinha o público com piadas, imitações e algumas músicas despretensiosas. Foi assim que surgiu a ideia de gravar "Meu Limão, Meu Limoeiro" que, já sendo "sucesso" nos intervalos do programa, sairia no álbum "Vou Deixar Cair", o quinto de Simonal. Capítulo singelo na história não só de Simonal como também da música popular brasileira é a campanha ou happening do “Mug”. “Mug” era um boneco de pano preto, redondo e sem pescoço, com os olhos esbugalhados, cabelos vermelhos e calça xadrez ao estilo escocês, que virou febre ao ser vendido como amuleto da sorte para o Ano-Novo. Os mais variados artistas e personalidades participaram da campanha, como o “Zimbo Trio”, Chico Buarque, Ary Toledo, Hebe Camargo e Maurício de Sousa, além, é claro, de Simonal. Aproveitando o momento, Simonal estreou show produzido no “Teatro Princesa Isabel” em Ipanema. O nome era "Mugnífico Simonal" e trazia o cantor acompanhado da sua banda, cantando músicas e realizando alguns esquetes. Na temporada no “Teatro Princesa Isabel” com o show "Mugnífico Simonal", o cantor escreveu nos bastidores uma música com Ronaldo Bôscoli. Nela falava em luta, em uma reflexão sobre Martin Luther King Jr., pastor americano ícone na luta pelos direitos civis naquele país. A canção foi tocada na temporada do show, mas, como era de se imaginar, ficou retida na censura por quatro meses. Ainda assim, na entrega do “Troféu Roquete Pinto” para os melhores do ano, Simonal cantou a música para um “Teatro Paramount” lotado, fazendo um discurso sobre a causa. O programa de Simonal na TV trocou de horário e de nome e ganhou a participação de Chico Anysio, passando a se chamar “Vamos S'imbora”. No famoso “III Festival da Música Popular Brasileira”, da TV Record, Simonal foi indicado como intérprete por tantos compositores que a organização abriu uma exceção para que ele apresentasse uma música em cada uma das três eliminatórias. Assim, o cantor defendeu "Balada do Vietnã", (vestido de guerrilheiro), "O Milagre", (com um grande crucifixo no peito) e "Belinha", (vestido de pilantragem). Simonal lança o primeiro de quatro albuns com o nome “Alegria, Alegria” bordão que Simonal usava na televisão e que Caetano Veloso pegou emprestado para usar como nome de uma música. O disco era pilantragem pura, com várias cantigas de roda, palmas, muita gente no estúdio durante a gravação e alguns sucessos, como "Vesti Azul". Seus principais sucessos são "Balanço Zona Sul", "Lobo Bobo", "Mamãe Passou Açúcar em Mim", “Carango”, "Nem Vem Que Não Tem", "Tributo a Martin Luther King", "Sá Marina" (que chegou a ser regravada por Ivete Sangallo, Sérgio Mendes e Stevie Wonder, como "Pretty World”), "País Tropical" de Jorge Ben, que seria seu maior êxito comercial, e "A Vida É Só Pra Cantar". Simonal teve uma filha, Patrícia, e dois filhos, também músicos, Wilson Simoninha e Max de Castro. Cantor detentor de esmerada técnica e qualidade vocal, Simonal viu sua carreira entrar em declínio após o episódio no qual teve seu nome associado ao “DOPS”, envolvendo a tortura de seu contador Raphael Viviani. O cantor acabaria sendo processado e condenado por extorsão mediante sequestro, sendo que, no curso deste processo, redigiu um documento se dizendo delator, o que acabou levando-o ao ostracismo e a condição de pária da música popular brasileira. Mas, após muitos anos, José Gregori quando era Secretário dos Direitos Humanos provou sua inocência. A “OAB” também o inocentou, mas Wilson Simonal já havia morrido. Este episódio fez Wilson Simonal ser perseguido, pela mídia, por produtores e por programadores, ignorado pelo público, amigos se afastaram e poucos lhe deram a mão, Simonal caiu no ostracismo e entrou em depressão. Wilson Simonal passou a sofrer de alcoolismo e morreu de cirrose hepática.